Análise crítica dos aspectos estruturais da Pirâmide

ANÁLISE CRÍTICA DOS ASPECTOS ESTRUTURAIS DA PIRÂMIDE ALIMENTAR DO DEPARTAMENTO NORTE AMERICANO DE AGRICULTURA (USDA) E DA PIRÂMIDE ALIMENTAR DA UNIVERSIDADE DA HARVARD

ANA PAULA SOUZA

1. INTRODUÇÃO:
A história da alimentação e o homem, caminham juntos desde o início da criação da vida, pois como um ser heterotrófico, o homem necessita de alimentos para a sua sobrevivência (ALBERTS, 1997).
O homem e seus hábitos, de como se alimentar e a forma de selecionar estes alimentos, remontam a antigüidade. Enquanto o homem primitivo tinha como fonte de alimentação os vegetais, a evolução da humanidade fez com que este homem adquirisse hábitos alimentares mais especializados, como o consumo de carne (MARCHIONI, 2002). A carne inicialmente era consumida crua e posteriormente, com a descoberta do fogo, passou a ser consumida na forma assada (FLANDRIN e MONTANARI, 1998). Essa diversidade alimentar foi fundamental para a sobrevivência, proporcionando-lhe os nutrientes essenciais na dieta. O homem para se manter vivo, necessita de vários substratos energéticos e basicamente de hidratos de carbono, proteínas e lipídeos, provenientes dos alimentos (SUEN 1998).
A forma como o homem adquiriu hábitos alimentares, diferenciou-se muito de uma civilização para outra. Estes hábitos sempre estiveram ligados a fatores culturais, religiosos, sociais e econômicos (GOUVEIA, 1998). Enquanto que em determinados povos certos alimentos eram tidos como essenciais, em outros, eram considerados como sagrados ou proibidos (FLANDRIN e MONTANARI, 1998).
A evolução dos hábitos alimentares se deu de forma bem lenta, de acordo com as necessidades e diversidades que o homem foi encontrando. Um exemplo histórico nos é dado por gregos e romanos, que durante séculos se alimentaram na posição deitada, mas que na Idade Média passaram a comer sentados, pois esta posição permitia que pudessem trinchar melhor os grandes assados (FLANDRIN e MONTANARI, 1998). Isto demonstra que embora a civilização venha evoluindo, quando se trata de hábitos alimentares, assim como os gregos e os romanos, esta evolução se dá de forma muito lenta. Portanto, os hábitos alimentares e a forma de consumo dos alimentos de cada civilização, acompanham o homem desde os primórdios. A mudança de hábitos alimentares, mesmo que para uma melhor qualidade de vida, torna-se dispendioso pois cada civilização mantém seus aspectos culturais, sociais e econômicos que determinam seus padrões alimentares (GOUVEIA, 1998).


Surgiu então, na área das ciências da saúde, o ramo da Nutrição para orientar estas mudanças dos hábitos alimentares, visando uma adequação dos alimentos às necessidades nutricionais do organismo (DUTRA, 1998).
A Nutrição como Ciência, tanto em seus aspectos sociais, econômicos e profissionais, é muito recente. Este ramo do conhecimento desenvolveu-se e passou a ter contornos de ciência, no início do século XVIII com a Revolução Industrial, mas só tomou impulso após a Primeira Guerra Mundial, entre os anos de 1914 e 1918 (VASCONCELOS, 2002). A introdução da Nutrição como área da saúde, ocorreu na Universidade de Buenos Aires em 1937 pelo médico argentino Pedro Escudeiro, que estabeleceu e divulgou as Leis da Alimentação (TIRAPEGUI, 2000). Relegada durante muitos anos a um segundo plano, a Nutrição ganha importância fundamental a partir do momento em que o homem toma consciência de que sua saúde física e mental, está estritamente ligada à sua alimentação (VASCONCELOS, 2002).
Com o aumento na expectativa de vida, e a medida que as populações se tornam mais urbanas, as sociedades entram em diferentes estágios, que têm sido chamados de transição nutricional. Estas mudanças nutricionais e a oferta de alimentos, estão vinculadas ao aumento da renda da população e propõem um maior consumo alimentar (MARCHIONI, 2001). Esta oferta aliada ao consumo demasiado de alimentos, nem sempre está relacionada a uma boa qualidade de vida, pois a alta ingestão de alimentos pode gerar doenças como a obesidade (FRANK, 1996).
A obesidade é o distúrbio metabólico mais comum no homem e o mais antigo documentado na história. Sua gênese é decorrente de uma série de fatores de natureza genética, ambiental e social, que é desencadeada pelo balanço energético positivo quando a ingestão alimentar é maior que o gasto energético (GUEDES, 2003). Conforme NUNES, (1998) acredita-se que a natureza da obesidade humana seja poligênica, com forte influência de variáveis alimentares. NÓBREGA, (1998) destaca que além dos fatores de risco, genético e alimentar, o estilo de vida da família está relacionado ao gasto energético.
O excesso de nutrientes associado a erros no metabolismo normal, torna-se um risco em potencial para desencadear doenças associadas à obesidade como diabetes, hipertensão, dislipidemias entre outras (KRAUSE, 2002).
A população americana, é atualmente formada por cerca de 23% de indivíduos obesos (WAITZBERG, 2000) e no Brasil, a obesidade tem sido considerada um problema de Saúde Pública (OMS, 1998).
Nos Estados Unidos, várias tentativas foram feitas no sentido de amenizar os problemas causados pela obesidade, como melhor adequação dos alimentos e melhoria nos hábitos alimentares e na qualidade de vida dos indivíduos (WELSH et al., 1992 a). Conforme BURINI, (2000) a maior ingestão energética deve-se aos distúrbios quantitativos e qualitativos da ingestão alimentar, motivados por desinformação nutricional.
Desta forma, a elaboração de um instrumento de educação nutricional, foi a alternativa para melhorar os hábitos alimentares da população. O primeiro instrumento elaborado, visando a estruturação dos alimentos em um modelo a ser seguido por profissionais de saúde, foi a “Roda de Alimentos” (SHILLING, 1995). Este modelo não se mostrou eficaz, pois sua estrutura, possibilitava diferentes interpretações, pois caracterizava os alimentos na mesma área conforme a função, o que tornou evidente a necessidade de outra alternativa (WELSH et al., 1992 b).
A FAO (Food and Agricultural Organization), que trabalhou juntamente com a (OMS) Organização Mundial da Saúde, e World Heath Organization, com a finalidade de representar nutricionalmente e visualmente os alimentos considerados essenciais e em quantidades ideais, propôs em 1992, um modelo em forma de pirâmide, que veio a substituir a então Roda de Alimentos (DUTRA,1998).
Este instrumento que foi denominado Pirâmide de alimentos, passou a ser utilizado pela população americana. Sua utilização estendeu-se a outros países que o adequaram conforme seus costumes, incluindo o Brasil (PECKENPAUGH, 1997).


2.OBJETIVOS:

2.1. GERAL:

- Comparar e analisar os aspectos estruturais das Pirâmides de Alimentos da USDA e da Universidade da Harvard.

2.2. ESPECÍFICOS:

- Comparar os grupos de alimentos da Pirâmide da USDA e os da Universidade da Harvard;
- Comparar e analisar as diferenças estruturais entre as duas Pirâmides;
- Avaliar as proporções dos alimentos da Pirâmide da Harvard;
- Propor alterações nutricionais na Pirâmide da Harvard.


3. METODOLOGIA:

- A pesquisa caracteriza-se por ser uma revisão bibliográfica, onde foram utilizados referências de livros, revistas científicas e sites.


4. DESENVOLVIMENTO:

4.1 ANÁLISE ESTRUTURAL E NUTRICIONAL DAS PIRÂMIDES DA USDA E DA HARVARD

O guia alimentar da Pirâmide está de acordo com as recomendações da RDA- Recommended Dietary Allowances e foi desenvolvido para pessoas saudáveis, acima de dois anos de idade (WAITZBERG, 2000).
O modelo de pirâmide, foi elaborado de forma que os alimentos fossem distribuídos em ordem decrescente, conforme as necessidades nutricionais do organismo (DUTRA, 1998). O guia alimentar da Pirâmide é norteado por três princípios: variedade, moderação e proporcionalidade (WAITZBERG, 2000). Sua estrutura indica que os alimentos situados na base devem ter prioridade nas refeições e serem consumidos em maiores proporções que os alimentos localizados acima dela (STUMP, 1999). Esta ordem, que indica a quantidade de consumo dos alimentos, é determinada conforme as necessidades nutricionais exigidas em uma dieta normal (TIRAPEGUI, 2000).
A dieta ideal aceita atualmente, segundo as recomendações internacionais, preconiza um balanço calórico de 45 a 55% do total de calorias diárias provenientes de carboidratos complexos; 10% de açúcares; 12 a 13% de proteínas; e 20 a 30% de lipídeos (CELESTE, 2001).
O modelo geométrico de pirâmide proposto pela OMS e FAO, foi totalmente aprovado (figura 1), dando origem à Pirâmide do Departamento Norte Americano da Agricultura (USDA) (PHILIPPI, 1999).
A Pirâmide do USDA, ficou então estruturada da seguinte forma:

• Na base, estão os carboidratos complexos e refinados, ou seja, cereais, tubérculos e raízes como o arroz, macarrão, pães, farinhas, batatas entre outros (SHILLING, 1995). Estes alimentos são fontes energéticas e via direta para a formação de ATP (adenosina e trifosfato) pela via da glicólise (LEHNINGER, 1995). Os alimentos deste grupo são recomendados nas quantidades de 6 a 11 porções por dia. devendo satisfazer 50 a 55% da dieta (CELESTE, 2001);

• Em seguida estão as frutas e as verduras que são alimentos ricos em fibras e que juntamente com a água regulam o trânsito intestinal (WILLIAMS, 1997). São compostos por vitaminas hidro e lipossolúveis, que exercem diversas funções no organismo, entre elas, a de participar das funções enzimáticas, que impulsionam os processos bioquímicos em meio lipídico e aquoso nas membranas celulares
(LEHNINGER, 1995). Seu consumo é indicado de 3 a 4 porções por dia,
podendo ser ingeridos até 25 g de fibras diariamente (PHILIPPI, 1999);

• a seguir, destacam-se os derivados do leite que contém altos teores de cálcio e as carnes que são fonte de ferro, indicando o consumo de 2 a 3 porções ao dia, correspondendo a cerca de 12% da dieta/dia (DUTRA, 1998). Apesar das funções das proteínas no organismo, o seu consumo não é considerado elevado quando comparado aos carboidratos. As proteínas exercem suas funções adequadamente mesmo nestas proporções, como na construção dos tecidos, no transporte de nutrientes hidrofóbicos no plasma, no equilíbrio ácido-base e contribuiem com aminoácidos glicogênicos para a gliconeogênese (LEHNINGER, 1995).

• No ápice da Pirâmide, estão localizados os alimentos caracterizados pelos confeitos, açúcares refinados e gorduras, indicando um consumo moderado, ou seja, uma porção por dia (CLARK, 1998). A princípio, esta indicação devia-se aos altos teores de calorias contidos neste grupo de elementos, que poderiam ocasionar o inadequado ganho de peso pois eram considerados como “calorias vazias”, pelo baixo valor nutricional e alto valor calórico (SCHLLING, 1995). Esta classificação é considerada atualmente, um dos aspectos negativos da Pirâmide do USDA. Este consumo indicado como 1 porção por dia, generaliza todos os tipos de gorduras e limitam igualmente suas porções. Estes aspectos em relação às porções e seus valores nutricionais, serão discutidos adiante na Pirâmide da Harvard.

Esta Pirâmide de Alimentos do USDA, é a utilizada atualmente em vários países e diferenciada conforme os hábitos alimentares de cada população (TIRAPEGUI, 2000). Entretanto, uma pesquisa longitudinal realizada por 12 anos na Universidade de Harvard, pelo Dr. Walter Willett (professor em epidemiologia e nutrição), que envolveu 121.000 enfermeiras e 50.000 homens e que teve como objeto de estudo esta Pirâmide de Alimentos (WILLET, 2001). Este estudo demonstrou que muitos aspectos precisavam ser revistos, principalmente no tocante à redistribuição dos alimentos em sua estrutura (COWLEY, 2002). Os estudos revelaram, que os resultados obtidos não foram os almejados, tanto em relação à adequação dos alimentos quanto ao aspecto de prevenção de doenças, podendo sua utilização não ser tão eficaz como proposto (PERCEGO, 2002).
Com os avanços científicos, principalmente na área da nutrição, ficou clara a necessidade de revisão na composição desta Pirâmide (WILLET, 2001). Esta revisão propõe mudanças em sua estrutura, deslocando alimentos de lugar, substituindo-os por outros e inserindo novos elementos na estrutura da Pirâmide (WILLET, 2003).
Desta forma, a Universidade de Harvard, através de extensas pesquisas científicas, elaborou uma Pirâmide que objetiva atender às necessidades nutricionais dos indivíduos, direcionando-a para uma melhor qualidade de vida (PERCEGO, 2002). Esta Pirâmide (Figura 2), sofreu algumas modificações em relação a Pirâmide do USDA e traz, três novos elementos que não estavam presentes na pirâmide original: a atividade física, o vinho e suplementos vitamínicos.
As modificações da Pirâmide da Harvard em relação à Pirâmide do USDA, caracterizam-se da seguinte forma:

• Na base: acrescenta um novo elemento, a prática de atividade física como indicação de sua prática para uma melhor qualidade de vida. O exercício físico é a forma mais fácil de controlar e estabilizar o peso (LANCHA, 2002). O “Centers for Disease Control and Prevention” e o “American College of Sports Medicine”, relata que todo adulto deve realizar pelo menos 30 minutos de atividade física com intensidade moderada todos os dias na semana (NIEMAN, 1999). Na base da Pirâmide, ainda, substitui os carboidratos refinados por carboidratos integrais, como o arroz integral, pão integral e farinha integral. Estes carboidratos integrais diferem dos carboidratos refinados por conterem maiores teores de fibras. As fibras contidas nestes alimentos auxiliam na regulação do índice glicêmico no sangue além de proporcionarem maiores teores de vitaminas e sais minerais (CARPER, 1995). É indicado o consumo abundante destes alimentos. Ao lado destes carboidratos integrais foram colocados os óleos vegetais, indicando um maior consumo destes óleos vegetais na dieta diária. O consumo de gorduras poliinsaturadas e monoinsaturadas, contidas nos óleos vegetais, são fundamentais ao organismo pois contém ácidos graxos essenciais como ômega 6 e ômega 3 que não são sintetizados pelo organismo (BOBBIO, 1992).

• As proteínas vegetais, ganham uma localização central na Pirâmide de Alimentos, indicando o consumo de 3 porções por dia. As proteínas vegetais, estão separadas das proteínas animais que são recomendadas de 0 a 2 porções por dia priorizando assim o maior consumo das proteínas vegetais. As oleaginosas são ricas em ácidos graxos insaturados (ácido oléico, ácido linoléico e ácido alfa-linilênico) protetores às doenças cardíacas e são pobres em gorduras saturadas (PASCHOAL, 2001). Estudos demonstram diminuição em 50% do risco de desenvolver doenças coronarianas com o consumo diário de 30 g de vários tipos de oleaginosas como o amendoim, amêndoas, nozes de natal entre outras (FRASER, 1992). Além disso, a associação de proteínas vegetais fornece aminoácidos que melhoram significativamente o valor nutricional da dieta e vem a substituir o consumo moderado de carne bovina (DUTRA, 1998).

• A carne vermelha e a manteiga, foram colocadas no ápice da Pirâmide, juntamente com os carboidratos refinados, especialmente a batata e o pão branco. Esta mudança indica que estes alimentos devem ser consumidos com moderação. A carne vermelha é rica em ferro e vitaminas do complexo B que são essenciais para o metabolismo normal do organismo (GOODMAN & GILMAN, 1996) , entretanto assim como a manteiga, contém gorduras saturadas que possibilitam o aumento do colesterol sérico (CARPER, 1995). Os carboidratos refinados são ricos em amido e pobres em fibras, especialmente a batata que quando cozida, tem um índice glicêmico de 85%, sendo absorvidos rapidamente no intestino delgado e transportados à corrente sangüínea. Esta absorção, sem maiores teores de fibras, leva a um esvaziamento gastrointestinal mais rápida pela maior concentração de açúcares, causando hiperinsulinemia pelo alto teor de glicose no sangue (GUYTON, 2002). A hiperinsulinemia é uma das teorias mais recentes da gênese da obesidade, pois a insulina é lipogênica e impede a lipólise contribuindo para o acúmulo de gorduras corporais (PECKENPAUGH, 1997). Esta baixa atividade da insulina pode também, levar à redução da atividade do sistema nervoso simpático e prejudicar a termogênese (KRAUSE, 2002).

• O vinho e os suplementos vitamínicos, ganham lugar extra-Pirâmide, indicando o consumo destes elementos de forma moderada. O álcool quando ingerido moderadamente de 1 a 2 cálices por dia (ADA, 1999), previne doenças cardíacas por fortalecer os vasos sangüíneos e evitar coágulos (OLSZEWER E., 2000). Os suplementos vitamínicos, quando utilizados em estados de hipovitaminoses possibilitam a cura e melhoria dos sintomas desta doença (WILLIAMS, 1997).

As mudanças na Pirâmide da Harvard em relação à Pirâmide do USDA em relação aos alimentos, são positivas quando enfatizam a substituição dos carboidratos refinados por integrais, pois visam além da qualidade nutricional dos alimentos, o controle do índice glicêmico através das fibras (PERCEGO, 2002). Os carboidratos refinados, propostos pela Pirâmide da USDA, contém menores teores de fibras, consequentemente aumentam o índice glicêmico e a secreção de insulina, podendo levar a doenças como o diabetes e hipertrigliceridemias (WILLET, 2001); o seu consumo elevado pode gerar ainda, um ganho de peso indesejado, pois a glicose quando em excesso, é armazenada no tecido adiposo na forma de triglicerídeos (STRYER, 1995). Com o aumento dos níveis de triacilgliceróis, aumentariam também os níveis de VLDL circulantes promovendo um depósito nas artérias, desencadeando processos oxidadtivos (LEHNINGER, 1995). Já as fibras, presentes em maiores quantidades na Pirâmide da Harvard, que compõem os vegetais, frutas e alimentos integrais, além de conterem vitaminas e sais minerais importantes ao metabolismo, permitem a modulação do índice glicêmico por diminuírem o tempo de esvaziamento gástrico (CARPER, 1995). As fibras solúveis, sofrem fermentação no intestino formando ácidos graxos de cadeia curta como acetato, propionato e butirato que são benéficos ao organismo por serem hipocolesterolêmicos (VERBEEK et al, 1995). Já as fibras insolúveis, contribuem com a formação do bolo fecal e promovem a aceleração do trânsito intestinal, para a desintoxicação do organismo (PECKENPAUGH, 1997). As fibras também contribuem com o equilíbrio ácido-base do organismo pelas propriedades alcalinizantes como sódio, potássio, cálcio, magnésio e acidificantes como cloro, enxofre, fósforo contidos nos alimentos (SHILLING, 1995). Conforme a “National Advision Commitee on Nutritional Education, NACNE-1983 e o “Diet and Cardiovascular Disease” do “Commitee on Medical Aspects of Food and Health Policy- COMA-1984 é indicado o consumo de 30 g de fibras/dia. Este consumo é verificado apenas por 5% da população, o que torna viável a orientação coletiva para o aumento deste consumo, como propõe a Pirâmide da Harvard (SHILLING, 1995).
A caracterização dos óleos vegetais na base da Pirâmide da Harvard, sugere que seu consumo seja de 30% da dieta (PERCEGO, 2002), que é semelhante ao RDA que propõe 25% a 30% deste consumo na dieta. Este consumo, é ainda inferior quando comparado ao rico consumo do Mediterrâneo, 35% a 45% na dieta por dia de azeite de oliva extravirgem, onde a população apresenta baixos índices de doenças coronarianas (SALINAS, 2002). Estes percentuais de gordura indicados na dieta pela Pirâmide da Harvard de 30% na dieta, refere-se apenas aos óleos vegetais, enquanto à Pirâmide do USDA generaliza as gorduras saturadas e insaturadas, restringindo o seu consumo. Os óleos vegetais são compostos por gorduras poliisaturadas e monoinsaturadas que fornecem ácidos graxos essenciais como o ômega 6 (ácido linoléico) e ômega 3 (ácido alfa-linolênico). O ácido graxo ômega 6, forma o ácido D-hommo gama-linolênico e origina a prostaglandina E, que inibe inflamações e agregação plaquetária, regula o sistema imunológico, aumenta os níveis de AMP cíglico, inibição da lipoxigenase que previne a conversão de ácido aracdônico em leucotrienos pró-inflamatórios e reduziria a formação de eicosanóides pró-trombóticos e pró-inflamatórios (OLSZEWER, 2000). Já o ômega 3, precursor do ácido eicosapentanóico (EPA) e ácido docosaexanóico (DHA) com efeito antiinflamatório, reduz a produção de citocinas como as interleucinas IL-1. IL-2, IL-3 e IL-6 e o fator de necrose tecidual, regula as reações hiperimunes, reduz os níveis de colesterol-LDL e de triglicerídeos, diminui a agregação plaquetária, diminui os riscos de infarto do miocárdio e reduz a reestenose de “bypass” e de angioplastia (OLSZEWER, 2002). A proporção indicada de ômega 6 para ômega 3, é de 6:1 (TURATTI, 2002). Entretanto, estudos propõem a proporção maior dos ácidos graxos ômega 3 para o ômega 6, pois o contrário pode promover disfunções celulares como o câncer, o diabetes e a artrite (LEAF, 1988). A proporção maior de gordura ômega-6 para o ômega-3, pode deprimir o mecanismo de vigilância do sistema imunológico contra tumores (WATTENBERG, 1990)

Os óleos de milho, açafrão e girassol possuem o maior teor de ácidos graxos ômega-6 e o menor de ômega-3, o que denota proporções desvantajosas à saúde. Já o óleo de linhaça e o de canola têm melhor proporção ômega-3/ômega-6 e o azeite de oliva extravirgem, possui maiores teores de monoinssaturados considerados protetores de doenças cardiovasculares (CARPER, 1995).
A indicação ao consumo dos óleos vegetais, é adequada quando são atribuídos à dieta, preferencialmente em temperatura ambiente. Todos os óleos vegetais sofrem oxidação sob altas temperaturas, sendo considerado o óleo mais estável para altas temperaturas o óleo de milho, por ter um menor teor de ácidos graxos polinsaturados que são mais sensíveis à oxidação (BOBBIO, 1992). Além do que, a maioria dos óleos vegetais contém antioxidantes naturais como o óleo de soja que contém tocoferóis, mas estes são inativados sob tratamento térmico (PASSOTO, 1998). Os óleos vegetais, devem estar adequados em relação às calorias da dieta, pois contém 9 kcal por grama podendo levar ao ganho de peso indesejável (WILLIAMS, 1997). Lembrando ainda, que as oleaginosas referidas na Pirâmide da Harvard sobre o consumo de 1 a 3 porções por dia, também são fonte de gorduras monoinsaturadas e contém em média 6 kcal por grama, devendo assim, estarem adequadas em relação às gorduras totais da dieta (IBGE, 1996).
O consumo pela população por alimentos ricos em gorduras tem se mostrado crescente e a carne vermelha na forma de fritura, é considerado o modo preferencial por jovens e adultos (SOUZA, 2002). Pesquisas têm demonstrado que as maiores fontes de trans isômeros (gorduras que aumentam o risco à doenças cardíacas) na dieta são os alimentos fritos (MENDES, 2002). Dietas com excesso de calorias, com alto teor de gordura saturada e altas doses de colesterol, podem aumentar o nível total de colesterol no sangue (MANDARINO, 1995).
Neste sentido, sobre as gorduras saturadas, a Pirâmide da Harvard, propõe o consumo moderado de carne vermelha e derivados em contrapartida, o aumento no consumo de carnes brancas e proteínas vegetais ricas em gorduras poli e monoinsaturadas e vitaminas do complexo B como a soja e as oleaginosas (WILLET, 2003). Esta proposta, é indicada conforme WILLET, (2001) porque o cozimento da carne vermelha em elevadas temperaturas desencadeia a produção de aminas heterocíclicas mutagênicas, que apresentam importante relação com o câncer de colón e reto. Em relação ao câncer de cólon, não existe uma quantidade segura de carne vermelha para o consumo, pois o consumo por uma vez na semana, aumentou as chances de desenvolver câncer em 40% dos indivíduos e o consumo diário de 150 g de carne, aumenta as chances em 250% (WILLET, 1990). Além disso a carne vermelha apresenta um considerável teor de metionina, que quando ingerida em excesso pode elevar os níveis de homocisteína, um importante fator de risco cardiovascular. Um aumento de 5 micromol/l nos níveis de homocisteína leva a um aumento de 60% nos homens e 80% nas mulheres no risco de doenças cardiovasculares. Já as carnes brancas não são ricas em homocisteína. Além disso os peixes são importantes fontes de EPA e DHA, que exercem inúmeros benefícios à saúde. Já o frango, além de conter baixo teor de gorduras saturadas, apresenta apenas 2,3 mg/100g de ácido mirístico, enquanto que a carne vermelha apresenta 56 mg/100g. Esse ácido graxo é o principal responsável pela elevação dos níveis plasmáticos de colesterol.
A soja apresenta muito pouca quantidade de metionina, além de conter aminoácidos essenciais, podendo ser considerada um importante substituto. Além desse fato, o alto consumo de proteínas de origem animal leva a um aumento na excreção renal de cálcio. Já o consumo de proteínas de origem vegetal, em especial a soja, diminui a quantidade de cálcio excretada (WILLET, 2001). A soja, tem muitas vantagens como substituta à carne vermelha, todavia o consumo da soja não é habitual, ao passo que, o consumo de carne vermelha, é considerado preferencial dentre todas as carnes pela população (SOUZA, 2002). Estudos sugerem que não há necessidade de erradicar a carne vermelha do cardápio, pois ela pode trazer benefícios ao organismo quando consumida adequadamente: sem gordura aparente, pois esta gordura é saturada (HOWE, 1992); moderadamente, alternando este consumo com carnes brancas e juntamente com vegetais folhosos ricos em ácido fólico, pois estes junto com a carne vermelha formam uma estrutura (ácido fólico, B6 e B12) que formam cisteína e não homocisteína (WILLET, 2001).
A Pirâmide também propõe, moderação no consumo de gorduras saturadas provenientes do leite e derivados. Estudos revelaram que o consumo de leite integral proporcionou o aumento de câncer oral, gástrico, retal, pulmonar e cervical, ao passo que o consumo de leite desnatado com 2% de gordura, previne o desenvolvimento de câncer oral, gástrico, de cólon, retal, pulmonar, da vesícula biliar, de mama e cervical (METTLIN, 1990). A manteiga que é derivada de gordura animal e rica em gordura saturada, está ao lado da carne vermelha, no ápice da Pirâmide. Nesta localização deveriam estar também as margarinas vegetais, com indicação de consumo moderado, pois estudos demonstram que os níveis de gorduras trans é de 20,7% em margarinas cremosas, 32,2% em margarinas duras e 23,1% em cremes vegetais (MENDES, 2002).
Portanto o local destinado as gorduras saturadas na Pirâmide da Harvard, com indicação para o consumo moderado, procede.
Em relação ao álcool e os suplementos vitamínicos, devem ser avaliados com bastante cautela. O álcool foi inserido na Pirâmide e por isso indica que o seu consumo pode ser benéfico, porém, deve-se atentar que, como o álcool foi colocado ao lado do topo da Pirâmide, o consumo deve ser feito de forma moderada (1 a 2 cálices por dia), para que não haja distorções. O vinho quando ingerido moderadamente, traz muitas vantagens ao organismo prevenindo doenças cardíacas por fortalecer os vasos sangüíneos e evitar coágulos (OLSZEWER, 2000). Não obstante, a figura do álcool associada à Pirâmide, pode contribuir negativamente com os objetivos de qualidade de vida. A sua caracterização na Pirâmide de Alimentos, pode estimular um consumo pré-existente por parte da população. Este risco existe, pois o álcool já é consumido de uma forma geral pela população adulta e especialmente pela juvenil. Conforme pesquisa realizada no Cesumar, no ano de 2001, englobando estudantes universitários na faixa etária entre 17 a 59 anos, o consumo de álcool é de 68,39% entre os homens e de 61,20% entre as mulheres, sendo a freqüência deste consumo por ambos de 12,37% por três vezes na semana e 4,12% todos os dias (SOUZA, 2002).
Este consumo mesmo indicado como moderado pela Pirâmide da Harvard, pode prejudicar a educação nutricional da população em geral, pois esta indicação pode trazer mais malefícios que benefícios. O álcool além de ser uma fonte calórica, é uma droga psicoativa e uma toxina e qualquer que seja seu nível de ingestão, afeta o corpo de maneiras não apenas energéticas (SIZER, 2003). O vinho contêm fenóis que são desativados por enzimas. Se um indivíduo possuir enzimas imperfeitas, os fenóis podem não serem dissolvidos e causar enxaquecas (HUNTER, 1991). Entre os transtornos da ingestão de vinho, estão a produção de acidez gástrica e em excesso pode causar danos ao coração, fígado, cérebro e causar dependência (BECKER, 1989).
Em segundo lugar, assim como o álcool, os suplementos vitamínicos ocupam lugar extra-Pirâmide, sugerindo o seu consumo como forma suplementar às necessidades do organismo. Entretanto, o uso destes suplementos vitamínicos deve ser feito de forma criteriosa e somente indicados quando houver uma deficiência vitamínica apresentada pelo paciente. Quando o indivíduo apresentar alguma patologia ou necessidade fisiológica, estes suplementos vitamínicos devem ser prescritos a nível de consultórios e a princípio, por médico. O uso indiscriminado ou excessivo de algumas vitaminas pode causar diversos prejuízos ao organismo.
A nova Pirâmide propõe uma suplementação das vitaminas B6, B12, ácido fólico e vitamina D como segurança alimentar (PERCEGO, 2002). Entretanto estas vitaminas, assim como os minerais, são encontrados em todos os alimentos que compõem a nova Pirâmide, como leite, ovos, grãos, carnes magras, vegetais, folhas, legumes, entre outros, o que torna desnecessária a suplementação vitamínica em indivíduos saudáveis. Quando um indivíduo saudável faz uso de suplementos vitamínicos sem necessidade, ocorre um excesso que leva a um desequilíbrio no organismo, denominado hipervitaminose (KRAUSE, 2002). A ingestão de vitaminas do complexo B em altas doses, pode ser considerada como medicamento, devendo ser cuidadosamente controlada para prevenir toxicidade (AGNOL, 2001).
A respeito desta toxicidade pode-se citar alguns exemplos:
A vitamina B6 (piridoxina) quando em doses acima de 5 mg por dia por um longo período de tempo, pode causar falta de coordenação muscular e em alguns casos, severo dano nervoso; a vitamina B12 (cobalamina), dispensa um maior consumo, pois a necessidade desta vitamina pelo organismo é pequena e a dieta normal fornece até mais que o necessário, ou seja, de 0,6 a 1,2 mg por dia; a vitamina D, é armazenada no tecido adiposo e é liberada lentamente no organismo, aumentando o risco de toxicidade, podendo provocar enfraquecimento ósseo progressivo em crianças e hipercalcemia em adultos (WILLIAMS, 1997). O ácido fólico não representa grau de toxicidade comprovada, porém, em grandes quantidades pode mascarar a anemia ocasionada pela falta de vitamina B12, podendo ocorrer danos irreparáveis no sistema nervoso central (CATHARINO, 2002).
Desta forma, a associação do álcool e dos suplementos vitamínicos à Pirâmide de Alimentos, que é um objeto de educação nutricional direcionado à população saudável, não vem de encontro ao seu objetivo e nem `as leis da Nutrição- Qualidade, Quantidade, Harmonia e Adequação que regem as diretrizes da boa nutrição e melhora na qualidade de vida (TIRAPEGUI, 2000).
Finalmente, a prática de atividade física associada à Pirâmide de Alimentos, ao contrário do álcool e dos suplementos vitamínicos, é positiva pois torna-se mais um elemento a ser trabalhado e estimulado junto a população, que visa uma melhoria da qualidade de vida. O que condiz com a literatura, pois, conforme NIEMAN (1999), o “Centers for Disease Control and Prevention” e “American College of Sports Medicine”, preconiza que todo adulto deve realizar pelo menos 30 minutos de atividade física de intensidade moderada todos os dias da semana; visto que, esta prática freqüente leva a melhorias na saúde e na prevenção de doenças.
Esta nova Pirâmide de Alimentos proposta pelo Dr. Willet, traz avanços significativos para a saúde da população, que contribuem para a qualidade de vida da população. Entretanto, tanto nesta Pirâmide quanto na do USDA, há a ausência em sua estrutura, de um elemento de fundamental importância para o organismo e ao qual sem ele, todos os componentes da Pirâmide de Alimentos não exerceriam as suas funções; sem ele, não haveria degradação, absorção, excreção e especialmente vida: A ÁGUA!
A água, é elemento essencial, pois compõe cerca de 70% do corpo. Todos os processos bioquímicos ocorrem em meio aquoso e é ela quem nos indica o pH e por razões complexas, tem livre acesso às membranas celulares apesar de sua natureza polar (ALBERTS, 1997). A água distribui-se por todo o espaço celular e é o meio no qual ocorrem o transporte de nutrientes, as reações metabólicas catalisadas enzimaticamente e a transdução de energia química (LEHNINGER, 1995).
A inclusão deste elemento na Pirâmide seria de fundamental importância, visto que a FAO (Food and Agricultural Organization) escolheu a água para representar o Dia Mundial da Alimentação, com o tema “Água-Fonte Segura da Alimentação” (CHRISTOFIDIS, 2002).

4.2. ÁGUA, ELEMENTO ESSENCIAL NA ESTRUTURA DA PIRÂMIDE DE ALIMENTOS

As mudanças mais positivas na Pirâmide da Harvard, dizem respeito ao aumento na ingestão de fibras, à prática de atividade física diária e o consumo moderado de gorduras saturadas. Todavia, estas mudanças seriam mais eficazes quando aliadas ao alto consumo de água. Com o aumento da ingestão de fibras, aumenta a necessidade de água para manter a movimentação do conteúdo intestinal, evitando o endurecimento das fezes (CARPER, 1995); já a atividade física diária demanda água conforme a duração e a intensidade (CLARK, 1998). ROCHA, (2000) associa a baixa ingestão de água e o consumo de alimentos saturados, com a formação de placas de gorduras nas artérias.
A água, é o meio no qual se deu a origem dos seres vivos, e é o veículo provedor das integrações no meio interno que possibilitam a continuação da vida (ALBERTS, 1997).
O homem como ser endotrópico e homeotérmico, sobrevive quando mantém o equilíbrio das reações entre o meio interno com a biosfera, (DUTRA, 1998). Este equilíbrio, impede perdas desnecessárias ao organismo, que depende de substratos para o funcionamento do seu metabolismo que utiliza de gasto energético para acoplar reações e eliminar seus resíduos (PURVES, 2002).
Todavia, para que estas reações possam ocorrer, o meio deve estar condicionalmente adequado (GOODMAN & GILMAN, 1996). A fluidez e os componentes que participam das reações de acoplamento, a intercomunicação entre organelas, as células e sistemas que compõem o meio, devem estar em equilíbrio entre si (ROBERTIS, 2001). Estas condições, são propiciada pela água e eletrólitos que são provedores do equilíbrio químico e fundamental para a manutenção da homeostasia (CINGOLANI, 2004). Os eletrólitos contidos neste meio aquoso, quando se deslocam de um lado para outro nas membranas celulares por osmose, transmitem informações através de variações elétricas (LANCHA, 2002).
O equilíbrio é proporcionado pelo balanço hidro-eletrolítico, que é mantido pela entrada e saída de água e eletrólitos dos compartimentos aquosos e pelo balanço de líquidos que ingressam e egressam do organismo (DOUGLAS, 2002). Este meio de equilíbrio o qual é possibilitado pela água e eletrólitos, compõe os líquidos intra e extra celulares que constituem cerca de 70% do peso corporal (BERNE, 2000).
A água no LIC (líquido intracelular), no homem adulto, constitui 50% dos 70% de água do peso corporal e é o veículo no qual ocorrem as reações bioquímicas metabólicas (ROBERTIS, 2001). Se sua fluidez for inadequada, pode interferir negativamente na homeostasia (CINGOLANI, 2004). Os outros 20% de água, estão distribuídos nos compartimentos extracelulares (LEC): 4,5% no plasma, 13,5% no espaço intersticial e 2% nos líquidos transcelulares como líquor, saliva, sêmem, bile, sucos intestinais, urina entre outros (DUTRA, 1998).
Para a manutenção destes líquidos corporais, requer-se um equilíbrio hídrico que resulta da ingestão e da excreção de água pelo organismo (ALIGIERI, 1999).
A ingestão de água provém de três diferentes fontes: 1) da ingestão de líquidos que representam cerca de 1200 ml/dia; 2) da constituição dos alimentos, que é variável conforme o alimento, estando por cerca de 700 ml/dia para uma dieta equilibrada; 3) da oxidação dos substratos energéticos, onde a produção de água varia conforme a adequação dos macronutrientes pois: a) 0,41 grama de proteína; b) 0,6 grama por grama de carboidrato; c) 1,07 por grama de lipídeos (DOUGLAS, 2002). Apesar dos lipídeos fornecerem maiores quantidades de água em sua oxidação, os indivíduos com maiores quantidades de gorduras armazenadas no tecido adiposo, mantém menores teores de água corporais (KRAUSE, 2002).
Quanto à excreção de líquidos, pode ocorrer por diferentes vias: pelos pulmões, por respiração; pela pele, por sudorese; pelas fezes, em menores quantidades e pelo rim que é o principal órgão de eliminação de água através da urina, cujo volume mínimo obrigatório é de 600 ml/dia (DOUGLAS, 2002). Os rins mantém o equilíbrio entre a ingestão e a excreção de água e da maioria dos eletrólitos (GUYTON, 2002). A ingestão de menores quantidades de água, diminui as concentrações dos minerais que podem precipitar e gerar cálculos renais (CARPER, 1995). Os ingressos e egressos de água no organismo, que resultam no equilíbrio hídrico, podem ser descritos pelo Quadro 2. A necessidade de água varia conforme idade, a temperatura ambiente e a atividade, devendo ser maior a ingestão de líquidos quanto maior for a temperatura e a atividade física (FRANK, 2002).
Em situações fisiológicas normais, a ingestão de água por dia deve corresponder a 100 ml por kg de peso para crianças até 10 kg, 40 ml por kg de peso para jovens e adultos, 30 ml por kg de peso para idosos (DUTRA, 1998). Esta quantidade deve estar aumentada em situações de estresse metabólico, como em queimaduras, em cirurgias, em atividades exaustivas e em altas temperaturas (WAITZBERG, 2000). A reposição hídrica deve estar adequada principalmente, antes, durante e após as atividades físicas, pois a desidratação compromete o funcionamento normal do organismo, prejudica o desempenho, podendo levar à morte (LONGO, 2001). As perdas de água podem ocorrer por diferentes vias e principalmente em decorrência de altas temperaturas do ambiente e de práticas de atividades físicas, conforme o Quadro 3.

Quadro 2- Ingestão e excreção de água/dia.
Ingressos de água
Água de Bebida 1.200 ml
Água dos alimentos 700 ml
Água das oxidações 300 ml
Total Ingressos 2.200 ml/dia
Egressos de Água
Urina 1.200 ml
Respiração 400 ml
Pele 400ml
Fezes 200 ml
Total egressos 2.200 ml/dia
Fonte: Douglas, 2002

Perdas de água pelo organismo.
Perda de água Temperatura Calor: Exercícios
insensível: normal: pesados:
Pele 350 ml 350 ml 350 ml
Pulmões 350 ml 250 ml 650 ml
Suor 100 ml 1400 ml 5000 ml
Fezes 200 ml 200 ml 200 ml
Urina 1500 ml 1200 ml 500 ml
Perda total 2500 ml 3400 ml 6700 ml
Entrada de água
para manter o
balanço hídrico 2500 ml 3400 ml 6700 ml
Fonte: Berne, 2000.

No calor e durante a prática de exercícios pesados, o balanço de água só é mantido se o indivíduo aumentar a entrada de água para compensar o aumento de sua perda pelo suor, pois a excreção de água pelos rins é insuficiente para manter o balanço de água (BERNE, 2000).
Na prática de atividade física, a ingestão de líquidos deve estar entre 400 a 600 ml 2 a 3 horas antes da atividade física, 150 a 200 ml a cada 20 minutos. Durante o exercício e após a atividade deve-se ingerir cerca de 150% do volume perdido (WOLINSK, 1996). Um dos fatores limitantes da capacidade de sustentar o exercício prolongado, é a desidratação induzida pelo exercício (LANCHA, 2002).
A água também mantém a temperatura corporal evitando a morte celular em temperaturas muito elevadas no organismo; quando a temperatura ambiente é superior a 32ª C, há grandes perdas do LTC devendo-se aumentar o consumo de água em 15% do habitual (DUTRA, 1998).
O consumo de água em quantidades adequadas, é portanto fundamental em diferentes situações e etapas da vida. A água ingerida é de alta digestibilidade e é rapidamente absorvida desde o estômago até o intestino delgado que é seu maior local de absorção (BERNE, 2000).
As funções deste elemento no organismo, são extraordinariamente variadas e de complexa amplitude que vão além da homeostasia. Como origem da vida e veículo para a promoção da mesma, a água em sua estrutura polar, é no meio intracelular o ambiente adequado onde ocorrem os processos metabólicos bioquímicos (ALBERTS, 1997). Este ambiente, é delimitado pela célula, a qual fornece substratos à maquinaria humana e é composta por 70 a 80% de água (BRACHT, 2003).
Para exercer suas funções, a água após ingerida e absorvida no trato gastrointestinal, é transportada às células e tecidos pelo líquido intravascular e impulsionada pela força do coração (DUTRA, 1998). Por pressão hidrostática é transportada para o líquido extracelular onde transporta os gases, os alimentos e produtos do metabolismo celular (ROBERTIS, 2001). Nos líquidos trancelulares, a água lubrifica os tecidos, as articulações e as membranas serosas que são importantes nos processos digestivos, respiratórios e excretórios (WILLIAMS, 1997). Só no trato gastrointestinal são necessários 8 litros de água para os processos digestivos, que são reabsorvidos após exercerem suas funções (GUYNTON, 2002). A água no líquor protege o cérebro e a medula espinhal e nos olhos os humores mantém a pressão intra-ocular (CINGOLANI, 2004).
A ausência de água diminui a capacidade do organismo em executar uma tarefa mais do que a deficiência de um alimento sólido, pois uma redução de 4 a 5% de água corpórea, reduz em 20 a 30% a capacidade de trabalho de órgãos e sistemas (DUTRA, 1998).
A água apesar de ser um elemento vital para a execução das funções do organismo (ALBERTS, 1997), não é considerada uma vitamina. Apesar de seu consumo mínimo por dia, 1200 ml, ser semelhante numericamente às necessidades calóricas diárias, 1200 kcal (CUPPARI, 2002), não é considerado um macronutriente. Isto porque está contida nos alimentos e é fundamental aos processos efetivos de digestão, absorção, metabolização e excreção do organismo (LEHNINGER, 1995). Apesar também de suas inúmeras funções no organismo (GUYTON, 2002), não é considerado um elemento funcional. Entretanto, é um elemento único e essencial à vida (DEVLIN, 1998).


4.3. SUGESTÕES PARA UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO A PARTIR DA PIRÂMIDE DA HARVARD


A Pirâmide da Harvard, foi estruturada após exaustiva pesquisa científica e os resultados apontaram para a necessidade de uma reformulação nutricional visando uma melhora na qualidade de vida. Muitos, tipos e proporções dos alimentos caracterizados na Pirâmide, não são habituais na população brasileira. Entretanto, verificamos que a obesidade e outros distúrbios, estão amplamente relacionados aos alimentos consumidos pela população em geral, e percebemos a importância que os hábitos alimentares têm em nossas vidas. Estes hábitos alimentares estão vinculados a fatores sociais, econômicos, psicológicos e associados ao cotidiano atual, interferem diretamente em nossa alimentação. Estes fatores dificultam a mudança alimentar e consequentemente a melhora na qualidade de vida, tornando esta tarefa um grande desafio. Nosso papel enquanto profissionais, é contribuir com uma orientação nutricional para que a população possa usufruir dos benefícios do conhecimento atual. A Pirâmide da Harvard, deve nortear essa orientação, para que a população possa ter uma melhor qualidade de vida.
A utilização da nova Pirâmide, deve entretanto ser criteriosa em alguns aspectos como na indicação do álcool , suplementos vitamínicos e gorduras totais.
Como vimos nesta pesquisa, há vários aspectos positivos na Pirâmide da Harvard, em relação à Pirâmide do USDA, como por exemplo a inclusão do consumo de alimentos integrais, dos óleos vegetais, das proteínas vegetais entre outros. Todavia, a água apesar de sua magnitude, não está caracterizada na figura geométrica que é o objeto mundial de educação nutricional, denominado Pirâmide de Alimentos. Este referencial denota que os estudos sobre nutrição e qualidade de vida direcionados ao indivíduo enquanto organismo a partir da unidade celular, necessitam ser revistos e aprimorados tanto pela FAO, quanto pela Harvard.
As ciências da Nutrição, são tão complexas quanto parecem e as pesquisas devem compreender a nutrição ao indivíduo como um todo. A nutrição humana, é nutrição intracelular que ocorre em ambiente aquoso e é dependente de água exógena para sua manutenção.
Desta forma, a água enquanto elemento essencial à vida, deveria ter suas propriedades e funções divulgadas aos indivíduos de uma forma que não a apresente isolada dos demais nutrientes da Pirâmide de Alimentos.
A água não deveria ser encarada como mero suplemento à ingestão dos demais nutrientes. Ela deveria, muito mais, ser considerada ela própria como um nutriente essencial, devendo-se fazer abstração do fato de que ela não pode atuar como fonte energética pois, conforme demonstrado, suas funções são de importância capital para o correto funcionamento do organismo e, consequentemente, para a saúde.
A aplicação da Pirâmide da Harvard traz várias vantagens para a saúde da população. Esta pesquisa verificou, no entanto, que sua aplicação correta e proveitosa carece em muitos aspectos de orientação, baseada em dados científicos, no que tange às proporções de vários nutrientes. Além disto, há nutrientes na Pirâmide de Harvard cujo balanço benefício/malefício é bastante negativo, caso do álcool por exemplo. E finalmente, esta pesquisa também sugere uma orientação mais precisa e incisiva sobre a importância do consumo de água pela população, a qual é vital para a qualidade de vida proposta pela Pirâmide de Alimentos da Universidade de Harvard. Levando em conta principalmente estes fatores, sugere-se a estrutura da figura 3 a qual não inclui o álcool e os suplementos vitamínicos, destacando ainda, o consumo ideal de água e os tipos de gorduras a consumir.


Além da água, outros alimentos podem ainda ser acrescentados à Pirâmide de Alimentos, como a canela que melhora a atividade da insulina, capacitando o organismo a processar os açúcares de forma mais eficiente (CARPER, 1995). Entretanto para a inclusão de outros alimentos, sugere-se um novo estudo.


5. CONCLUSÃO:

Há vários estudos sobre a melhora da qualidade de vida, especialmente em relação à alimentação. O Dr. Willit, em seus estudos, verificou falhas nutricionais na Pirâmide de alimentos da USDA e sugeriu modificações. Embora estas alterações sejam recentes e tenham oferecido resistência, elas apontam mudanças para uma melhor qualidade de vida da população. As mudanças sugeridas pela Pirâmide da Harvard, embora não sejam habituais, devem ser observadas, avaliadas, questionadas mas relevadas pois são de natureza científica. Negar o conhecimento científico, é fechar os olhos para o futuro e para si enquanto profissional. A nutrição, enquanto ciência, é recente e muito se tem a pesquisar e descobrir. Sua contribuição para uma melhor qualidade de vida da população é atribuída à pesquisa, que qual indicará os caminhos a serem melhorados, restringidos, inovados ou renovados.
Enquanto não se chega a um consenso sobre qual Pirâmide utilizar e quais alimentos substituir, as mudanças sugeridas pela Harvard, devem ser avaliadas, adequadas e referenciadas através das Ciências Nutricionais. Por outro lado, como benefício à saúde da população, a inclusão da água na Pirâmide de alimentos, torna-se necessidade nutricional.
Sua introdução na Pirâmide, indicaria a necessidade de seu consumo e consequentemente benefícios à saúde. Esta necessidade seria indicada através de sua localização na Pirâmide: durante todo o dia, pois localiza-se-ia na base; entre as refeições, pois localiza-se-ia entre os alimentos e em maior quantidade durante a prática de atividade física.
Com este elemento compondo a Pirâmide, poder-se-á educar e estimular o consumo ideal de água, juntamente com os outros elementos já caracterizados na Pirâmide alimentar, pois conforme MONTGOMERY (1994), o homem para manter uma nutrição saudável necessita de seis principais componentes em sua dieta alimentar, carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e Água.
Desta forma, a Pirâmide alimentar poderá conter em sua estrutura todos os elementos necessários para a boa saúde, o que irá de encontro aos seus objetivos de possibilitar uma melhor qualidade de vida.
Esta melhor qualidade de vida, será proporcionada pela abrangência dos elementos contidos em sua estrutura, como os alimentos que foram objeto de pesquisa científica, a prática de atividade física e a água como elemento essencial a esta estrutura. Esta orientação se dará, através dos profissionais da saúde, que utilizarão a Pirâmide de alimentos como instrumento educativo, enfatizando os seus benefícios de forma mais completa. A inclusão da água e sua associação ao maior consumo de fibras, aos ácidos graxos ômega 3, ao consumo moderado de gorduras saturadas e à prática de atividade física na Pirâmide de alimentos, poderá contribuir de forma mais global para a saúde da população.
A literatura referiu vários benefícios na Pirâmide da Harvard e estes benefícios devem ser avaliados e utilizados por profissionais de nutrição levando-se em conta as diferenças regionais, sócio-econômicas da população para que esta orientação nutricional traga os benefícios almejados.

A sua qualidade de vida depende da qualidade da sua alimentação.
(Garcia, 2002)

REFERÊNCIAS:

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